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maio/2025 | Publicado por:

Como as seguradoras devem se fortalecer para enfrentar catástrofes climáticas?

As mudanças climáticas têm deixado marcas profundas em diversos setores da economia global.

No Brasil, um país que convive com enchentes, secas severas, deslizamentos e eventos extremos cada vez mais frequentes, o setor de seguros enfrenta um desafio urgente: como se fortalecer juridicamente e estruturalmente para lidar com os impactos das catástrofes climáticas?

Este artigo propõe uma análise das práticas que as seguradoras brasileiras devem adotar sob o ponto de vista jurídico, regulatório e estratégico, abordando temas como compliance ambiental, contratos de seguros, solvência, atuação junto à Susep, ESG e responsabilidade civil.

Siga a leitura!

O novo cenário climático e seus reflexos no mercado segurador

Nos últimos anos, eventos como as enchentes no Rio Grande do Sul, deslizamentos em Petrópolis e secas prolongadas no Nordeste evidenciaram a urgência de repensar o modelo de atuação das seguradoras.

Segundo dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), os sinistros decorrentes de eventos climáticos extremos vêm crescendo exponencialmente, pressionando a estrutura financeira das companhias e levantando questões jurídicas sobre cobertura, exclusões e deveres das partes contratantes.

Revisão e inovação nos contratos de seguro: cláusulas climáticas

Um dos primeiros passos para o fortalecimento das seguradoras diante das mudanças climáticas está na adequação dos contratos de seguro, especialmente em relação às cláusulas que tratam de:

  • Riscos excluídos e cobertura para eventos naturais;
  • Conceito de “evento extraordinário” versus “evento previsível”;
  • Limites de cobertura e franquias em regiões de risco climático elevado;
  • Obrigatoriedade de medidas de mitigação por parte do segurado.

Conforme jurisprudência dos tribunais brasileiros, a interpretação das cláusulas restritivas deve ser feita de forma restritiva e clara, conforme preconiza o artigo 47 do Código de Defesa do Consumidor.

Assim, cláusulas ambíguas que tentam excluir responsabilidades por eventos climáticos podem ser consideradas abusivas.

Solvência e resiliência financeira: o papel da Susep

A Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão regulador do setor, tem incentivado práticas que promovam maior resiliência financeira das seguradoras frente a desastres climáticos. A autarquia já sinalizou a importância de incorporar fatores de risco climático nos testes de estresse e na análise de solvência.

De acordo com a Susep, que trata das diretrizes de gerenciamento de riscos, as seguradoras devem mapear e monitorar riscos ambientais relevantes, o que inclui o risco de catástrofes naturais.

Ademais, há expectativa de futuras regulamentações específicas voltadas ao disclosure climático, alinhadas ao TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures).

Resseguro: um mecanismo essencial de proteção

O resseguro climático torna-se uma ferramenta indispensável nesse novo cenário. Firmar contratos de resseguro com empresas globais especializadas em riscos catastróficos é fundamental para diluir a exposição a grandes perdas.

Além disso, devem ser consideradas cláusulas de retrocessão e diversificação geográfica do risco.

ESG e a estratégia de longo prazo das seguradoras

A adesão a práticas de ESG (ambiental, social e governança) deixou de ser tendência e passou a ser obrigação estratégica para as seguradoras. Isso envolve:

  • Avaliação dos riscos climáticos nos ativos e passivos da companhia;
  • Criação de produtos que incentivem práticas sustentáveis pelos segurados (seguros verdes);
  • Participação ativa em fóruns climáticos e alianças internacionais, como os Princípios para o Seguro Sustentável da ONU (UN PSI).

A agenda ESG, quando aplicada de forma concreta e integrada à gestão da seguradora, contribui para atrair investidores, melhorar o rating institucional e reduzir riscos reputacionais e regulatórios.

Inteligência de dados e tecnologias preditivas

Por fim, o enfrentamento das catástrofes climáticas passa também pela inovação tecnológica. As seguradoras devem investir em:

  • Plataformas de big data e machine learning para prever e precificar riscos climáticos;
  • Georreferenciamento de apólices em áreas de risco;
  • Sistemas de aviso prévio e mitigação de danos para os segurados;
  • Canais digitais de atendimento ágil durante crises.

A transformação digital do setor, além de reduzir custos, aumenta a capacidade de resposta frente aos desastres naturais e melhora a experiência do cliente em situações críticas.

Conclusão

O fortalecimento jurídico e estrutural das seguradoras diante das catástrofes climáticas não é apenas uma medida desejável — é uma necessidade urgente e estratégica para garantir a sobrevivência do setor e sua relevância social e econômica no Brasil.

As mudanças exigem uma revisão ampla de contratos, governança, compliance, solvência e produtos oferecidos, sempre sob o olhar atento da Susep, do Judiciário e da sociedade.

As seguradoras que se anteciparem ao risco climático com responsabilidade e inovação estarão melhor preparadas para o futuro — e mais bem posicionadas no mercado.

O propósito deste artigo é puramente informativo. Estamos à disposição para orientá-lo.

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