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10/05/2023 | Fonte: SONHO SEGURO

Miami se consolida como hub de seguros e resseguros para a América Latina

As vendas de seguros no mundo superaram US$ 7 trilhões e na América Latina totalizaram US$ 151 bilhões em 2021

epois de muitos investimentos, Miami se consagrou como um hub de seguros e resseguros para a América Latina. Propósito que vem sendo construído desde a década de 80. A primeira ideia foi lançar uma Bolsa de Seguros, nos moldes do Lloyd’s of London, instituição que tem mais de 300 anos. Na época, os empreendedores atraíram diversos executivos do maior mercado de seguros do mundo. Não foi tão difícil assim, contam alguns executivos que acompanharam de perto a grande inovação daquela época.

Os mais velhos se animaram com a ideia de trocar o “fog” londrino para viver em uma cidade ensolarada. Os mais novos, da ousadia do projeto e das oportunidades de ganhos financeiros ao atender a entao — e ainda tão sonhada — região da América Latina, com seus incontáveis projetos bilionários para a construção de obras que deem sustentação ao crescimento econômico da região.

Apesar de ainda estar na promessa, o crescimento dos países latinos atrai investidores, que costumam afirmar ser imprudente deixar a América Latina. Eles elencam bilionários investimentos que aguardam apenas um cenário político e econômico mais favorável e que precisarão de milionários contratos de seguros e de resseguro para garantir financiamentos para exploração de petróleo, energia, construção de pontes, rodovias, arranha-céus e troca de plantas industriais mais modernas e conectadas. E claro, de corretores.

A mais nova empresa a desembarcar em Miami é a brasileira Latin Re, uma das 23 corretoras de resseguros atuantes no Brasil, que inaugurou seu escritório de consultoria nesta semana, num coquetel sofisticado, que contou com a presença dos principais executivos deste mundo globalizado de resseguros.

O escritório na área de seguros e resseguros está instalado em Brickell, coração financeiro de Miami, que abriga a sede regional de muitas empresas, especialmente resseguradoras, corretoras, advogados, peritos, subscritores, incluindo o Lloyd’s of London, que consolida mais de 300 empresas com ofertas de vários tipos de seguro desde setembro de 2020, quando lá instalou uma filial para angariar negócios dos países latinos.

Trata-se de uma grande conquista para a corretora, que tem apenas quatro anos de operação no Brasil. “A diversificação dos riscos, a expansão da classe média e a crescente confiança do consumidor fazem da América Latina uma região cada vez mais atrativa para o setor, sendo o Brasil é o principal mercado de re/seguros”, afirma Maria Eduarda Bomfim, CEO da Latin America Re.

A Latin Re quer ser reconhecida como uma plataforma de soluções para nossos parceiros, seja em riscos facultativos, contratos, soluções de capital ou transferência de risco alternativa. Não há nada que não façamos. “Nosso foco é 100% em soluções e buscamos essas soluções onde quer que estejam. Os resseguradores de Miami já representam mais de 40% do nosso prêmio colocado nos resseguradores não locais”, conta Marcos Luz, sócio diretor da Latin Re.

O crescimento dos negócios em Miami foi acelerado com a pandemia. Muitos executivos trocaram Nova York e Chicago pelo homeoffice com vista panorâmica para o mar do Caribe, que na época oferecia custos com moradia e restaurantes até 40% menores. E lá decidiram ficar até hoje, o que acabou atraindo mais prestadores de serviços e inflacionando os preços de moradias e serviços.

“No passado, Miami era vista como uma porta de entrada – um lugar onde você parava no caminho para um lugar mais importante. Agora é um destino que atraiu importantes grupos de capital e nos, como corretores estamos aqui para atender as necessidades de re/seguros destes grupos”, acrescenta Felipe Freire de Aragão, sócio diretor da Latin America Re.

Resseguro, um negócio global

O mercado global de resseguros é composto por vários hubs, cada um deles com diversas competências e capacidades de risco. Trata-se de uma cidade importante para corretores de resseguros especializados, que podem permitir que os compradores de seguros utilizem os pontos fortes de cada hub individual para obter os melhores termos e condições para seus clientes com uma mistura de capacidade de todo o mundo.

Miami começou timidamente a se desenvolver a partir de 1990. Mas foi depois de 2016 que empresas de peso chegaram para se concentrar nas necessidades específicas de proteção dos clientes da região. A proximidade logística, a afinidade cultural, ter uma grande população de origem latina falando espanhol, bem como a cidade oferecer qualidade de vida, são os principais pontos que fazem de Miami um centro de negociação dos principais contratos de seguros da América Latina.

Inicialmente, as empresas ofertavam basicamente resseguros facultativos, aqueles desenhados sob medida para um risco específico. Hoje é possível encontrar diversas linhas de negócios demandadas pelas seguradoras que atuam na região. Uma das vantagens é que o órgão regulador de seguros na Florida aplica regras mais favoráveis para compradores de seguros da América Latina.

A maioria dos executivos afirma que seguros é um passo lógico na mudança do caráter econômico do sul da Flórida, um estado que enfrenta muitas perdas com catástrofes naturais e tem na indústria de seguros um grande apoio financeiro. Vale lembrar que até 2022, os EUA ocupam a liderança no ranking de seguros mundial, com vendas de US$ 2,5 trilhões.

De Miami para o mundo

As vendas de seguros no mundo superaram US$ 7 trilhões e na América Latina totalizaram US$ 151 bilhões em 2021, representando 2,2% dos prêmios mundiais, segundo estudo do Swiss Re Institute. Dados de 2022 estão previstos para serem divulgados em julho deste ano.

O mercado de Miami cresce além da região da América Latina, tornando-se um participante ativo no mercado internacional para a Europa Austrália e Ásia Pacífico. Os negócios de Miami complementam a capacidade oferecida por outros hubs globais, como o Lloyd’s of London, Bermudas e mercados europeus.

O hub conta com mais de 100 empresas de seguros, sendo resseguradoras e corretoras de seguros entre as mais atuantes, com um avanço rápido dos MGAs e MGUs. Os managing general agents são semelhantes a um corretor de seguros, um pouco mais especializado. Eles se definem como bons underwriters seniors, que acabam deixando seus postos nas maiores seguradoras internacionais para atuarem como subscritores em empresas pequenas, que chamam de boutique, numa estrutura mais leve e com metas responsáveis de lucro com suas empresas parcerias.

O tamanho do mercado, medido pela receita, da indústria corretores e agências de seguros na Flórida é estimado em US$ 11,8 bilhões em 2023. Espera-se que o tamanho do mercado corretores e agências de seguros aumente 2% em 2023. A indústria de corretores e agências na Flórida cresceu 0,5% ao ano em média entre 2018 e 2023, segundo o portal Ibis World.

A América Latina ainda é marcada por baixos níveis de penetração de seguros no PIB (Produto Interno Bruto), que vão de 21%, nas Ilhas Cayman, a 1,6%, na República Dominicana. A média é de 3%. O Brasil, neste quesito, aparece em quarto lugar, com 3,9%, de acordo com o estudo. Tais indicadores revelam que há oportunidades de crescimento significativas em comparação com os números de dois dígitos de países da Europa, Japão e Estados Unidos.

O Brasil lidera as vendas de seguros na região, com US$ 62 bilhões, sendo US$ 35 bilhões em seguros de vida e US$ 27 bilhões em seguros gerais. O consumo per capita é de apenas US$ 231 na região, sendo US$ 100 e US$ 130, respectivamente, figurando em sétimo lugar, com US$ 290.

Em resseguros, um mapeamento realizado pela Austral Re, com especialistas do setor de resseguros no Brasil e na América Latina, os prêmios emitidos das resseguradoras locais evoluíram positivamente em 20,4% em 2022, atingindo R$ 13,7 bilhões em dezembro de 2022. Um volume ainda considerado muito pequeno pelos resseguradores.

O mercado de resseguros brasileiro vem passando por um processo de descentralização com a flexibilização da abertura do setor., em 2007. De 100% dos negócios concentrados até então no único ressegurador, hoje apenas 35% estão no IRB Brasil Re, que segue sendo o maior do país, apesar de mais de 100 resseguradores estarem autorizados a operar no país.

Mesmo com maior concorrência, a perspectiva do estudo é de que as negociações de resseguro seguirão bastante difícil por uma questão global, com aumento de taxas em diversos segmentos. Mundialmente, a combinação de perdas por catástrofes e perdas de investimento fazem com que as resseguradas continuem com preços elevados para equilibrar desequilíbrios dos últimos anos. O capital ainda está restrito, disseram eles, com a nova capacidade limitada, mas se mostrou adequado para cobrir as exposições dos compradores.

As resseguradoras, de forma geral, seguirão em busca de maior eficiência com foco na redução da sinistralidade e contam com a eficiência dos corretores de resseguros, como a Latin Re, para concluirem negociações mais vantajosas para todos. No início dos anos 90 o número de corretoras de resseguros não chegava a 10, algumas com mais de 50 anos de atividade. Hoje são 23.

A aposta dos especialistas do setor é que o hub da América Latina e do Caribe em Miami continuará ofertando capacidade de primeira linha para as necessidades regionais de (res)seguros de seus corretores e cedentes. Todos estão esperançosos de que nos próximos 2 a 20 anos, à medida que os países da América Central e do Sul amadurecerem, haverá uma enorme necessidade de seguro.

Em abril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o novo plano de investimento em infraestrutura do governo federal, em substituição ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), terá seis eixos estratégicos: transportes; infraestrutura social; inclusão digital e conectividade; infraestrutura urbana; água para todos e transição energética.

E apesar da instabilidade política e econômica da região, os playeres não se recusam a subscrever seguro, mesmo em áreas submetidas a guerra de guerrilha. Eles apenas cobram mais.

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